Foi no começo dos anos 90, já não me lembro exatamente o ano e estou com preguiça de pesquisar. Estava eu em minha casa quando o telefone tocou, eu atendi e, do outro lado, uma voz inconfundível falou: “Aguinaldo Silva? É o Sílvio Santos!” Eu respondi: “Ah, vai tomar no toba!” E desliguei, pois achei que se tratava de um trote e aquela era a voz de um imitador. Dois minutos depois o telefone tocou, eu atendi de novo, e ouvi a mesma voz soltar aquela risada inconfundível e falar: “Sou eu mesmo Aguinaldo, o Sílvio!” Aí eu percebi que não era trote coisíssima nenhuma… Era o próprio! Mortificado pedi alguns milhões de desculpas, ele aceitou com o fair play típico dos homens poderosos e acima de qualquer insulto, e me fez, sem maiores delongas, uma proposta irrecusável para ir trabalhar no SBT. O que eu não sabia é que, naquele mesmo dia, ele iria fazer aquela proposta para outros quatro autores – Sílvio de Abreu, Glória Perez, Valter Negrão e Benedito Ruy Barbosa: em troca de altos benefícios e gordos salários, assinaríamos um contrato de gaveta, válido para o primeiro dia após o término dos nossos respectivos contratos com a Rede Globo. Era uma proposta irrecusável. Tanto que três de nós aceitaram sem pestanejar, e Sílvio logo providenciou para que assinassem o contrato. Quanto a mim, consultei meus conselheiros espirituais e eles cochicharam no meu ouvido: “Contrato de gaveta, misifio? Hum-hum. Isso é antiético, nem pensar”. Claro que, mesmo depois de ouvir o conselho dos meus guias eu hesitei durante algumas horas, pois não sou de ferro e a grana era altíssima… Mas acabei por mandar mensagem via fax para Sílvio dizendo que, bem, talvez fosse melhor esperar o fim do meu compromisso com a Globo, e aí sim negociar. Horas depois o telefone tocou… E era da sala do Boni me convocando pra ir lá com urgência. Fui. Ele me disse que a Globo já sabia do telefonema de Sílvio, e me fez uma proposta idêntica pra que eu continuasse lá. Aceitei na mesma hora. Os que já tinham assinado o tal contrato de gaveta e recebido as luvas, igualmente convocados pelo Boni, mudaram de idéia e também resolveram ficar. Foram processados por Sílvio… Porém isso é outra história. O que eu queria dizer ao lembrar esse dia da minha vida é que, por causa dessa movimentação de Sílvio Santos os salários dos novelistas “top de linha” em poucas horas subiram vários dígitos e eles passaram a ser as pessoas mais bem pagas da televisão brasileira… Até que veio a onda dos apresentadores: Faustão, Ana Maria Braga e outros que tais trocaram de emissora, inflacionaram o mercado, e até hoje continuam no topo, embora alguns jornalistas que saíram da Globo e foram pra Record e pro Sílvio Santos tenham chegado ao mesmo nível salarial e até hoje continuam lá. Isso, repito, foi no começo da década de 90. Desde então, só falei com Sílvio Santos de novo uma vez, no começo deste ano. O papo foi amigável, mas não teve nada a ver com um possível contrato. Por isso não procedem essas notícias recentes segundo as quais conversei com ele sobre o assunto “na semana passada, anteontem, ontem, agora mesmo”… Embora, se assim o fizesse, estaria no meu direito, assim como o dono do SBT no dele - é bom frisar. De qualquer modo os novelistas deviam recordar todos os anos o dia em que Sílvio Santos, mesmo sem querer, atuou vertiginosamente de modo a tornar nossos salários mais de acordo com o que rende o nosso trabalho… Pois esta é uma data pra se festejar.
Fonte: TvFoco
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